A maioria dos clínicos tem conhecimento que doenças infecciosas ocorrem com maior frequência e/ou são mais graves em pacientes com diabetes, muitas vezes associando-se a incrementos nos índices de morbimortalidade.
Uma série de evidências ‘in vitro’ demonstra que tal associação correlaciona-se a uma série de fatores consequentes ao ambiente hiperglicêmico, que caracterizam o paciente com diabetes mellitus, dentre os quais podemos ressaltar:
1. A atividade funcional dos neutrófilos encontra-se comprometida: evidencia-se em ambientes hiperglicêmicos redução da mobilização de leucócitos polimorfonucleares (PMN), assim como também se caracterizam deficiências em sua quimiotaxia e atividade fagocítica. Além disso, nesse mesmo ambiente observa-se inibição da atividade enzimática da glicose-6-fosfato-dehidrogenase e da transmigração transendotelial dos PMNs, ao mesmo tempo em que se eleva seu índice de apoptose. A atividade funcional dos linfócitos CD4 também se encontra prejudicada em pacientes nos quais o índice de hemoglobina glicada esteja acima de 8,0%.
2. Depressão dos sistemas antioxidantes: nos tecidos nos quais a presença de insulina não se faz necessária para o transporte de glicose, o ambiente hiperglicêmico circunjacente acarreta incremento nos níveis intracelulares de glicose, à qual é então metabolizada através do emprego de NADPH como co-fator. Destarte, o decréscimo nos níveis de NADPH acaba por impedir a regeneração de moléculas que têm papel fundamental nos mecanismos anti-oxidativos no interior da célula, acarretando por consequência elevação na suscetibilidade celular ao estresse oxidativo.
3. Comprometimento da imunidade humoral: tanto o sistema de ativação do complemento como a atividade funcional dos anticorpos podem se mostrar comprometidos em pacientes com diabetes. Dessa forma, alguns estudos demonstraram deficiência do componente C4 do complemento, enquanto outros demonstram que tal deficiência pode ser decorrente da disfunção dos PMNs. No que tange à produção de anticorpos, observa-se em pacientes diabéticos glicosilação da molécula de imuneglobulina, que se incrementa paralelamente à elevação dos níveis de Hb glicosilada, fato que pode acarretar seu comprometimento funcional.
4. Redução na produção de interleucinas: os macrófagos e monócitos de pessoas com diabetes secretam menor quantidade de interleucina 1 (IL-1) e IL-6 em resposta ao estímulo de lipopolissacarídeos, aparentemente em decorrência da presença de defeito intrínseco nas células do paciente diabético. Por outro lado, incremento na glicosilação pode vir a inibir a produção de IL-10, Fator de Necrose Tumoral (TNF) e interferon-gama pelas células mieloides. Da mesma forma, essa elevada glicosilação acarreta redução da expressão na superfície de células mieloides do complexo de histocompatibilidade (MHC) classe I e, por conseguinte, prejudicando todo encadeamento da resposta imunológica iniciada pela interação dos antígenos com esse complexo MHC.
Como consequência desses distúrbios mencionados, uma série de infecções é mais comumente evidenciada ou se expressa com maior gravidade em pacientes diabéticos, entre essas infecções está a Otite.
A otite externa maligna ocorre principalmente em pessoas com o sistema imunológico enfraquecido e em pessoas idosas com diabetes. A infecção do ouvido externo é normalmente causada pela bactéria Pseudomonas, espalha-se para o osso temporal, causando uma infecção grave, com risco de vida. O Staphylococcus aureus resistente à meticilina (SARM) também foi identificado como uma causa.
Otite externa maligna, infecção invasiva do conduto auditivo externo e da base do crânio, é considerada complicação infecciosa “quase específica” do diabetes em pacientes imuno-comprometidos, pelo mal controle metabólico e/ou, por idade avançada.
Tem na Pseudomonas aeruginosa o agente infeccioso responsável em 95% dos casos. O tempo de evolução do diabetes, a presença de complicações micro e macrovasculares e o conseqüente comprometimento vascular contribuem para a maior freqüência e severidade da infecção.
Sintomas de otite externa maligna
As pessoas com otite externa maligna apresentam dor de ouvido intensa (frequentemente pior à noite), secreção do ouvido com odor fétido, pus e detritos no canal auricular e, geralmente, diminuição da audição. Em casos graves, pode ocorrer paralisia dos nervos da face à medida que a infecção se espalha pela base do crânio.
Diagnóstico de otite externa maligna
Exame de tomografia computadorizada (TC)
Cultura da secreção
Biópsia
O diagnóstico da otite externa maligna se baseia na clínica e em resultados de TC. É importante realizar uma cultura (uma amostra da secreção é cultivada em laboratório para identificar os micro-organismos). Os médicos precisam frequentemente retirar uma pequena peça de tecido do canal auricular e analisá-la sob um microscópio (biópsia) para se certificarem de que os sintomas não são causados por câncer.
Tratamento de otite externa maligna
Antibióticos
Controle da diabetes
Repetidas limpezas do canal auricular
Geralmente, a otite externa maligna é tratada dentro de 6 semanas com antibióticos por via endovenosa. Entretanto, as pessoas com uma infecção leve devem ser tratadas com altas doses de um antibiótico, como ciprofloxacino por via oral. As pessoas que têm um acometimento extenso do osso podem precisar de antibioticoterapia por um período mais longo.
É essencial fazer um controle meticuloso do diabetes . Se possível, os médicos param de administrar qualquer medicamento que suprima o sistema imunológico .
Embora uma cirurgia não seja, normalmente, necessária, repetidas limpezas e remoção de pele morta e tecido inflamatório (debridamentos) do canal auricular no consultório médico são necessárias até que a infecção desapareça.
Dra. Milene Lopes Frota
Otorrinolaringologista
Belo Horizonte/BH
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